sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Quando chove em São Paulo.....

por Alíne Duarte


A aventura no ônibus em São Paulo de hoje está mais para chorar do que rir. Talvez quem não use o transporte público discorde da minha atitude, mas quem usa ônibus ou metrô vai ter um déjà vu.
Fiquei esperando um pouco numa parte coberta antes de ir para o ponto de ônibus, porque na calçada e em grande parte da rua dava para fazer rafting. Eu estava de sapatinho e não queria molhar os pés. Depois de um tempo a chuva já tinha diminuído, mas a corredeira que passava sob meus olhos não. Vi muitos ônibus que iam na direção da minha casa passarem, mas resisti. Mais um tempo esperando desisti e fui sem bote mesmo até o ponto de ônibus. Molhei os pés, claro, e fiquei irritada em esperar sei lá por quanto tempo com a calça molhada até o joelho, porque é isso que acontece quando se cruza uma cachoeira urbana. Peguei o ônibus uns 30 minutos depois e demorei mais uns 40 pra fazer um percurso que normalmente demoro 15. Mas já não estava achando tudo isso ruim, porque meu celular tinha bateria, eu estava ouvindo umas músicas para relaxar e logo que entrei no ônibus fui para o fundo, onde um assento vagou quando uma mulher, no ponto seguinte ao que eu subi, desceu. 
Olhei para o assento antes de sentar para ver se não estava muito molhado, mas estava sequinho, só que quase não consegui enxergar o espaço para sentar, pois a bunda da mulher ao lado era muito gorda e, além de ser gorda ela estava sentada na diagonal no banco, com a bolsa no meio da perna, com as pernas abertas, a bunda jogada pro lado, mandando mensagem no celular o tempo todo, enquanto tentava tirar um cochilo. Resolvi sentar mesmo assim afinal o ônibus continuaria lotado por um bom tempo, mas eu estaria sentada.

Sentei e dei uma jogadinha de quadril pro lado dela pra ver se ajeitava um pouquinho mais pro canto e liberava minha cota do assento, mas nada. Um pouco mais pra frente o ônibus ficou menos lotado e pude sentar  com as pernas pra fora, mas não fiquei muito satisfeita. Em seguida ônibus lotou de novo e tive que sentar no pedacinho que me restava, então fiquei irritada. Sentei metade em cima da perna dela, pisei de leve na lateral do sapato dela, mas nada acontecia, nem se mexia. Pensei então que se ela não iria me dar espaço pra sentar eu também não a deixaria dormir. Fiquei o tempo todo me mexendo no banco, sentando em cima da perna dela, tipo belisquinho, cada curva era uma desculpa pra chegar mais pra lá. Resolvi colocar um pedaço da minha bolsa em cima do colo dela e largar a alça cutucando-a o tempo todo. Ela não conseguia dormir mesmo, então fiquei um pouquinho satisfeita, mas ainda descontente.

Comecei a empurrar a perna dela, porque quanto mais a bolsa dela descia entre as pernas, mais espaço ela ocupava pro meu lado, o ônibus passou num buraco e aproveitei para pisar mais forte no pé dela que estava  na minha metade do assento, atravessado na frente das minhas pernas e daí sentei de vez em cima dela. Acho que estava cochilando e acordou meio assustada, deve ter esquecido onde estava, e se arrumou no banco. Finalmente pudemos nós duas tirar um cochilo. Estava tranquilamente, sem mais estresse com o trânsito, o calor e a chuva, chochilando com meus fones, ouvindo uma música agradável, em tom agradabilíssimo, quando de repente ouço alguém roncar bem alto e todo mundo do ônibus olhando ali mais ou menos pro lado em que eu estava sentada. Tirei o fone e era ela, meu Deus! Estava roncando bem alto e sem parar. Resolvi não dormir mais porque não queria que pensassem que era eu. Mais 5 minutos e cheguei no ponto em que tinha que descer e vim pra casa sem sono e satisfeita.
Daqui de onde estou sentada agora consigo ver o por do sol e a rua já está quase seca, mas a marginal parada nos dois sentidos. Essa é São Paulo!